A descarbonização está prestes a entrar na lista dos negócios que podem ser exportados pelo agronegócio brasileiro: com a adoção de processos mais sustentáveis de produção, a agropecuária pode mudar a forma como é vista no que tange a emissão de gases do efeito estufa, passando de emissor a um combatente das emissões e que sequestra carbono em vez de emitir.
Mas de onde vem esta imagem de emissor de gases? Primeiro do desmatamento de matas para a criação de pastagens, uma vez que a floresta em pé sequestra do ar muito mais carbono do que o capim, e também pela emissão de metano pelo gado – principalmente o gado bovino. Trocando em miúdos, o pum de um rebanho crescente de bois contribui para a crise climática.
Por que se preocupar com isso?
Você deve estar se perguntando: por que se preocupar com isso. A primeira resposta é: investimento. Farto investimento. Os números variam conforme a fonte e o método utilizado, mas as previsões são de que, até 2030, dezenas de bilhões de dólares cheguem ao campo com a negociação de créditos de carbono, atraídos pelo impacto positivo de uma série de tecnologias que estão transformando a atividade rural.
A consultoria de sustentabilidade e projetos de descarbonização WayCarbon, por exemplo, estima em até US$ 100 bilhões o potencial de receitas com créditos de carbono nos setores de agronegócio, florestas e energia até o fim da década. Segundo estudo feito sob encomenda da International Chamber of Commerce Brasil (ICC Brasil), isso equivaleria a projetos que reduziriam emissões em 1 bilhão de toneladas de carbono equivalente.
Apenas em projetos diretamente relacionados à agropecuária brasileira há uma estimativa de US$ 9 bilhões em negócios, com a redução de 90 milhões de toneladas de carbono até 2030
Soluções
Várias são as soluções que podem ser adotadas para a descarbonização e elas estão contempladas no Plano ABC+ (Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária). que tem a ambiciosa meta de retirar da atmosfera, até o fim da década, 1,1 bilhão de toneladas de carbono equivalente apenas com a implementação pelo agro das tecnologias listadas: recuperação de pastagens, plantio direto, fixação biológica de nitrogênio (FBN), florestas plantadas, manejo de dejetos animais e integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), uso de bioinsumos e resiliência e a adaptação de sistemas produtivos aos eventos extremos do clima.
Segundo o Mapa de Carbono dos Solos, elaborado pela instituição de pesquisa, o Brasil armazena hoje em seus solos cerca de 5% do carbono orgânico do mundo. Não por acaso, o grande pano de fundo do programa ABC+ e de outras iniciativas privadas nesse setor é a recuperação de pastagens degradadas, seja com sua conversão para agricultura ou para florestas plantadas
Para cumprir suas metas de descarbonização, segundo estudo do Instituto Escolhas, o país precisaria restaurar cerca de 30 milhões de hectares em áreas degradadas. Isso corresponde a cerca de 18% dos 165 milhões de hectares destinados à pecuária no Brasil. Deste total, cerca de 100 milhões de hectares já estão parcial ou totalmente degradados e podem ser recuperados. Em contrapartida, já há mais de 17 milhões de hectares convertidos para o sistema ILPF, uma inovação brasileira que combina produção agrícola, pecuária e florestas plantadas em uma mesma área, gerando benefícios em escala.
O sistema ILPF pode sequestrar até 23 toneladas de CO2e por hectare/ano. É quase 20 vezes mais que o consórcio realizado apenas entre pecuária e agricultura, que já melhora o balanço de emissões em relação à pecuária tradicional e sequestra cerca de 1,3 toneladas de CO2e.
Além disso, mais carbono orgânico indica mais fertilidade e disponibilidade de água no solo. Outro benefício do sistema ILPF para a pecuária é permitir pastos de qualidade durante todo o ano, inclusive no período seco, em que faltam boas pastagens. A recuperação do solo abre, assim, uma nova fronteira para a produção agrícola, com ganhos ambientais. Reduz-se, assim, a pressão pelo desmatamento e ganha-se em resiliência aos eventos climáticos cada vez mais imprevisíveis.
Outro estudo da Embrapa, demonstrou que, em um mesmo evento de estresse hídrico, áreas que utilizam técnicas de agricultura de baixo carbono tiveram perdas de 15% da safra, enquanto as propriedades da mesma região que não as adotaram perderam 25% da produção.